Parece que foi outro dia que ficava atiçado para alugar aquele jogo,
chamar os amigos e tirar infindáveis partidas multiplayer. Infelizmente,
não foi o meu caso, porque a besta aqui não teve Nintendo 64, mas foi a
história de muitos, os afortunados que jogaram Goldeneye 007 nos idos
de 1996. Como possuidor de um PlayStation e fã do gênero tiro em
primeira pessoa, comecei uma busca por títulos similares em consoles
porque era difícil ter um PC poderoso para jogar os mais recentes. Uma
procura que foi parcialmente findada com Medal of Honor, claramente
inspirado pelo clima de espionagem e objetivos por fase, e mais ainda
pelo estupendo, genial e imbatível Medal of Honor: Underground.
Era FPS, mas não James Bond. Sim, acreditei que o trágico 007:
Tomorrow Never Dies pudesse ser uma continuação digna, mesmo em terceira
pessoa, quando foi uma tremenda caca. A EA Games deu continuidade à
tradição nos videogames alternando entre pontos baixos e altos. Verdade
seja dita, quando dão tempo à EA, ela consegue, e o maior exemplo disso é
o espetacular James Bond 007: Everything or Nothing, que levou dois
anos para ser feito. Enquanto isso os frutos resultavam na sequência
espiritual Perfect Dark, por ser um FPS da Rare, e na ótima série
TimeSplitters, do estúdio Free Radical Design (hoje Crytek UK), que
inclui na sua equipe alguns dissidentes daquela época. O design ímpar
das armas e a jogabilidade suave confirmam.
Tempos depois, mesmo com o visual bastante ultrapassado, pude
finalizar o Goldeneye 007 e comprovar pelo emulador que se trata de uma
obra paradigmática. Diria mais, triplamente paradigmática. FPSs não são
jogáveis em consoles? FPSs só são atirar e atirar? Jogos licenciados são
uma porcaria? Tudo foi derrubado. Para não dizer do multiplayer em tela
dividida. Goldeneye 007 revolucionou, trazendo mais inteligência ao
gênero – avanços que foram emburrecidos em Halo, equivocadamente tido
como um sucessor no que se refere a referências nos FPSs de console.
Apesar da influência exercida por todos os títulos mencionados, quem
mais sofreu pela lacuna foi a Nintendo, que nunca teve outro FPS
exclusivo do mesmo quilate – Metroid Prime é um jogo de aventura, aliás,
também influenciado por Goldeneye 007, ou então de onde você acha que
foi inspirada a animação da câmera que mostra o cenário e entra na visão
do personagem principal?
Todo este longo intróito é para dizer que foi com surpresa que recebi
a notícia da reinvenção de Goldeneye 007 para Wii na E3 2010, mesmo
porque já se passaram seis filmes da franquia, e o ator principal nem é
mais Pierce Brosnan, mas Daniel Craig, como se sabe.
Não me empolgaria mais do que o normal se não fosse por um detalhe:
Goldeneye 007 é da Eurocom, a desenvolvedora britânica que fez o melhor
FPS do James Bond depois da Rare , o excepcional James Bond 007:
Nightfire nas versões de PlayStation 2, Xbox e GameCube – de PC era da
Gearbox Software. A publicação, como o Quantum Solace, será da
Activision, a atual detentora dos direitos autorais. A expectativa é
muito maior do que de um Goldeneye: Rogue Agent, por exemplo, aquela
picaretagem que tentou aproveitar o nome forte do olho de ouro ainda
possui nos jogos.
Por ser uma herança da
Rare, o novo Goldeneye está livre da obrigação de causar o mesmo
impacto, e sim apenas trazer à tona muitas das lembranças áureas do N64.
Mas que é bizarro ver Daniel Craig em vez de Pierce Brosnan no jogo,
isso é.